Karatê Dô 空手道 - O caminho das mãos vazias
14:31“Bem compreendeis, meus senhores, que o Samurai tem o caminho do duelo, o sábio tem o caminho da sabedoria e o comerciante tem o caminho do lucro. Na filosofia oriental todas as entidades têm sua trilha caracterizada pelo que se denomina DO, o caminho”
Yoshihide Shinzato
Karatê-do é a arte marcial praticada de mãos vazias que utiliza todo o corpo para se proteger e atacar, aprimorando seus movimentos para que atinjam a “perfeição” e a busca pelo equilíbrio físico e mental. O kanji 空 significa vazio, 手 significa mão e 道 significa caminho, ou seja, “O Caminho das Mãos Vazias”. Esta arte marcial vai além da defesa pessoal e visa também o desenvolvimento pessoal como ética, caráter e respeito tanto dentro do dojo quanto fora. Mas como ela surgiu e como foi seu desenvolvimento ao longo dos anos?
Boddhidarma
Boddhidarma – cujo nome completo era Bodhisatva Avalokitesvara Bodhidharma, em chinês é conhecido como “Ta Mo” e em
japonês como “Daruma Taishi” –, foi um zen-budista que passou nove anos no templo Shao Lin nas montanhas Songshan, na China. Segundo as lendas, ele nasceu na Índia e era o terceiro filho do Rei Sugandhain e fazia parte da Kshastriya, uma casta de guerreiros que treinavam o Vajramushti (Vajra de sol, real, cetro e Mushti de soco, punho. Em chinês é chamado de Lo Han), um estilo de luta. Acredita-se que ele chegou até as Montanhas Songshan por volta de 520 d.C. para aprender mais sobre o budismo.
Ele passou nove anos meditando e criou exercícios para ser praticado pelos monges nos quais fortaleceriam o corpo e a mente – já que muito deles estavam com os membros atrofiados de tanto meditar –, consistindo em 18 kata e dois sutras – em japonês é chamado Ekkinkyo (Yi jing jin) e Senzuikyo (Xi shui jin). No Ekkinkyo havia uma série de exercícios e técnicas de respiração para permitir que o corpo suporte longas horas de meditação e treinamentos intensos. No Senzuikyo ele explicou como os monges devem desenvolver a força mental e espiritual para o mesmo fim. Acredita-se que os ensinamentos de Boddhidharma podem ter incentivado o nascimento do kempo chinês e essas instruções ainda estão nos preceitos do karatê até hoje. Independente se a influência de Bodhidharma não é total certeza, os monges do templo Shao Lin conseguiram reconhecer a importância do exercício físico para alcançar a união do corpo com a alma e, assim, atingir a verdade, o equilíbrio e a paz interior.
Os estilos chineses de luta foram variando com as mudanças de dinastias, invasões e guerras. Era comum que oficiais fugitivos procurassem locais sagrados para se refugiar. Nesse intercâmbio de conhecimentos, refugiados e monges ensinavam novas técnicas de combate tanto com o corpo quanto com armas. Lembrando que o Shao Lin não foi a origem de todas artes marciais, já que outros estilos desenvolveram suas técnicas com base na observação de animais ou nos militarismo.
O Karatê de Okinawa Ele passou nove anos meditando e criou exercícios para ser praticado pelos monges nos quais fortaleceriam o corpo e a mente – já que muito deles estavam com os membros atrofiados de tanto meditar –, consistindo em 18 kata e dois sutras – em japonês é chamado Ekkinkyo (Yi jing jin) e Senzuikyo (Xi shui jin). No Ekkinkyo havia uma série de exercícios e técnicas de respiração para permitir que o corpo suporte longas horas de meditação e treinamentos intensos. No Senzuikyo ele explicou como os monges devem desenvolver a força mental e espiritual para o mesmo fim. Acredita-se que os ensinamentos de Boddhidharma podem ter incentivado o nascimento do kempo chinês e essas instruções ainda estão nos preceitos do karatê até hoje. Independente se a influência de Bodhidharma não é total certeza, os monges do templo Shao Lin conseguiram reconhecer a importância do exercício físico para alcançar a união do corpo com a alma e, assim, atingir a verdade, o equilíbrio e a paz interior.
Os estilos chineses de luta foram variando com as mudanças de dinastias, invasões e guerras. Era comum que oficiais fugitivos procurassem locais sagrados para se refugiar. Nesse intercâmbio de conhecimentos, refugiados e monges ensinavam novas técnicas de combate tanto com o corpo quanto com armas. Lembrando que o Shao Lin não foi a origem de todas artes marciais, já que outros estilos desenvolveram suas técnicas com base na observação de animais ou nos militarismo.
Castelo de Shuri |
Barco chinês (Junk) do século XIII |
No século XV, o rei Sho Shin baniu as armas de Okinawa dos nobres e dos camponeses por conta das revoltas que estavam acontecendo, as confiscou e guardou no castelo de Shuri. Porém, o rei convidou todas as famílias da nobreza para viverem na capital real, com medo de uma possível rebelião. Foi isso que impulsionou o interesse por combates com “as mãos vazias”, sendo uma delas o “Te” – uma combinação do kempo chinês -, praticado pela nobreza e a outra o kobudo.
O kobudo foi praticado e desenvolvido por camponeses e pescadores que incorporaram utensílios agrícolas e de pesca como armas efetivas para combate corpo a corpo. Tanto o treinamento com mão vazia quanto o com arma foram sigilosamente feitos em lugares remotos à noite e eram passados de pai para filho.
Em 1609, o Clã Satsuma invadiu Okinawa e tomou o castelo de Shuri. Okinawa virou um mero brinquedo do Japão, o qual manteve o banimento das armas dos okinawanos para que não houvesse mudança na situação política. Em 1683, durante o reinado do rei Sho Tei, um encarregado da China chamado Wanshu (Wang Ji) foi enviada até Okinawa para um vilarejo chamado Tomari, o qual foi ensinado os kata do kempo chinês. Depois do mestre Wanshu deixar Okinawa, os aldeões continuaram a treinar e praticar, nomeando um dos kata de Wanshu, o qual é praticado até hoje no Tomari-te.
Kusanku é outro mestre chinês mencionado em registros.
Oshima Hikki escrito pelo japonês Tobe Ryoen |
Teve outros mestres das artes marciais em Okinawa, como Sakugawa Shungo de Shuri-te que foi à China em 1755 para estudar o kempo. Ele teve vários seguidores como Makabi Chokei, Ukuta Satounushi, Matsumoto Chiku’udon Pechin (um posto, Pechin é um guerreiro feudal), Morishima Oyakata (outro posto, dessa vez de um Senhor Feudal) e Ginowa Cho’ho. Outros mestres são: Matsumura Sokon – muito conhecido pelas suas habilidades –, Itosu Anko – o qual ajudou a espalhar o Shuri-te – e Matsumura Kosaku – mestre do Tomari-te.
O fundador do Naha-te, o mestre Higaonna Kanryo foi para a província de Fukien na China estudar artes marciais entre 1868 ou 1869, onde passou 12 e 13 anos se especializando.
Treino de Karatê em Naha, a foto foi tirada antes da 2ª Guerra Mundial. Vestido de preto, é o Sensei Chojun Miyagi, fundador da Goju-ryu |
Durante a primeira metade do século XX, o nome de vários estilos de karatê mudaram. Os estilos Shuri-te e Tomari-te tornaram-se conhecido como Shorin-ryu (小林流, Escola do Pequeno Bosque). Já o estilo Naha-te tornou-se a Goju-ryu (剛柔流, Escola Forte e Suave), nome escolhido pelo fundador, Miyagi Chojun, em 1931.
Em 1933, o karatê okinawano foi reconhecido como uma arte marcial japonesa pelo Comitê de Artes Marciais do Japão, conhecido como Butoku Kai. Até 1935, karatê era escrito com os kanjis 唐手 (Tō-te, que significa mão chinesa), mas os mestres de vários estilos de karatê decidiram dar um novo nome para essa arte, a qual passou a ser escrita com os kanjis que até hoje é usado: 空手 (O Caminho das Mãos Vazias).
Os Estilos Precursores
Os Estilos Precursores
Shuri-te: desenvolvido em Shuri, possuía técnicas que lembram as do norte da China e utilizada muito os membros inferiores, deslocamentos rápidos, esquivas, chutes altos, saltos e movimentos acrobáticos com ênfase em velocidade. Sokon Matsumura, discípulo de Sakugawa e seu melhor aluno, tornou-se um dos mais proeminentes instrutores e sua influência que deu origem aos mais diferentes estilos de karatê como o Shorin-ryu, Shito-ryu, Shotokan e Wado-ryu.
Tomari-te: Localizava-se próximo a aldeia de Kumessura, habitada por militares. Possui influências do Shao Lin e de outras artes marciais. Não era muito diferente do Shuri-te, pois tinha a mesma ênfase na velocidade, na suavidade, nos bloqueios ao nível jodan (zona da cabeça) e, também utilizava chaves e projeções. Deu origem a ramificações da Shorin-ryu. Seu mestre mais reconhecido foi Kosaku Matsumura, que ensinou o estilo com sigilo e somente alguns alunos conseguiram passar os ensinamentos adiante.
Naha-te: Suas técnicas lembram o Kung Fu do sul da China, utilizando mais os membros superiores, com técnicas de punho curtas, circulares e destruidoras. Há busca do combate corpo a corpo com posições estáticas, chutes baixos e nunca com saltos. Dos três estilos, foi o que maior recebeu influências da China, mas o que teve menor contato com o Shao Lin. Seu maior mestre foi Kanryo Higaonna, o qual obteve algumas lições de Matsumura do Shuri-te por um curto período. Permaneceu muitos anos na China e quando retornou para Naha abriu uma escola com o enfoque nas técnicas respiratórias chinesas.
Parece complexo entender como surgiu o karatê? Então segue abaixo um infográfico simplificado com a linha do tempo.
Referência:
Traditional Karate-do - Okinawa Goju-Ryu, por Morio Higaonna
Kihon - União Shorin-ryu Karatê-do Brasil, por Mestre Yoshihide Shinzato
Caminho das Mãos Vazia, por Marcos Antônio Teixeira Guimarães e Fernando Antônio Teixeira Guimarães
Caminho das Mãos Vazia, por Marcos Antônio Teixeira Guimarães e Fernando Antônio Teixeira Guimarães
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