Zarei e Reisetsu – os cumprimentos da arte marcial
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No Brasil, temos o costume de nos cumprimentarmos com apertos de mão, abraços, beijos nas bochechas e outras formas bem calorosas. Porém, no Japão, o cumprimento mais conhecido é Ojigi, a reverência na qual se inclina o corpo. Esse ato de se curvar, acredita-se que surgiu durante os períodos Asuka e Nara (538-794 d.C.), com a introdução do budismo chinês e tinha relação com se colocar em uma posição mais “vulnerável” em frente a uma pessoa importante de acordo com seu nível social. Atualmente no Japão, o significado dessa reverência mudou bastante e é utilizado para várias funções como:
- Para cumprimentar ou se despedir de alguém;
- No começo ou final de uma aula, encontro ou cerimônia;
- Agradecer alguém;
- Se desculpar;
- Parabenizar alguém;
- Pedir para alguém um favor;
- Em rituais religiosos;
- Nas artes marciais.
Por mais que o ato pareça o mesmo, em cada ocasião transmitirá um sentimento diferente como agradecimento, respeito ou até remorso. O que você tenta comunicar ficará claro de acordo com sua postura e quanto tempo fica curvado. Nas artes marciais japonesas, o Ojigi é algo bastante presente, pois cumprimentamos o sensei, os senpai, os kouhai e o próprio dojo dessa forma, tanto na posição seiza quanto em pé. Então, saber fazê-lo de maneira efetiva é importante, para demonstrar respeito e disciplina pela arte que treina e pelos seus instrutores e colegas.
Aviso: as saudações no karatê e em outras artes marciais podem ser diferentes daquelas utilizadas no dia-a-dia dos japoneses. A saudação também pode variar dependendo da arte marcial, do estilo e do dojo. Caso conheça alguma variação, comente para acrescentarmos mais informações no post.
Seiza e o Zarei
Créditos: Ricardo Yukawa
A posição seiza no karatê tem diferenças entre homens e mulheres. Os dois devem se ajoelhar primeiro com o joelho esquerdo e depois o direito, colocar o pé direito sobre o esquerdo e sentar nos calcanhares, mas enquanto as mulheres devem manter os joelhos unidos, os homens os deixam afastados. Os braços devem ficar apoiados nas coxas, a coluna deve estar ereta. Ao se levantar, o processo é o contrário, levanta-se primeiro a perna direita e depois a esquerda. No começo é uma posição desconfortável e causa dormência nas pernas, mas, com o tempo e persistência, seu corpo vai se acostumando. Naturalmente, você se verá fazendo a seiza e se sentindo confortável nela.
O zarei é o nome dado ao cumprimento realizado quando está em seiza. Para efetuá-lo, há alguns passos:
- Sente em seiza;
- Curve seu corpo e coloque primeiro a mão esquerda e depois a direita no chão, inclinando-as para dentro como se fosse fazer um triângulo, mas sem juntá-las (dar espaço de 3 centímetros entre elas);
- Curve o corpo e direcione seu olhar para o chão. Abaixe a cabeça, mas não a encoste nas mãos, mantenha uma distância (uns 5 centímetros);
- Dizer o cumprimento quando necessário (oss, onegaishimasu, arigato gozaimasu);
- Levante o tronco e a cabeça voltando à posição original. Dessa vez, retorne a mão direita primeiro e depois a esquerda, pousando-as na coxa.
É o cumprimento feito em pé, na posição musubi-dachi (結び立, posição em que se junta os calcanhares e se aponta os pés para os lados, fazendo um V). As costas precisam ficar eretas o tempo todo durante a saudação, os pés e joelhos não podem se movimentar e não pode empinar as nádegas! Você precisa se curvar por volta dos 45º, as mãos devem estar ao lado do corpo – evite batê-las contra o corpo quando for fazer o ritsurei, é falta de respeito. Fique nessa posição por três segundos e retorne a posição inicial.
Quando fazer o cumprimento?
- No momento do Shomen-rei, no qual todos estão voltados para o Kamiza – onde está instalado o kamidana, foto do fundador, entre outros – saudando-o em zarei.
- No Sensei ni rei (ou Senpai ni rei, caso outra pessoa esteja dando aula no lugar do Sensei), onde todos cumprimentam o Sensei em zarei.
- Quando é pedido kiotsuke (気を付け = atenção) se faz o ritsurei, principalmente antes e depois de fazer katas ou kihons.
- Quando entrar no tatame, pela primeira vez naquele dia, faz-se o zarei.
- Quando entrar e sair do tatame durante o kyukei (休憩 = intervalo, pausa), faz-se o ritsurei voltado para o tatame.
- Quando treinar em dupla – kotekitai, bunkai, shiai kumite, jyu kumite, etc – cumprimentar o parceiro com ritsurei.
- Quando o Sensei ou Senpai der algum comando.
- Para cumprimentar o Sensei, Senpais, Kohais antes de iniciar o treino e no final, quando acontece o Otsukaresama (agradecimento final). Como estamos no Brasil, é costume também aperto de mão, beijo nas bochechas ou um abraço logo após o reisetsu. Mas, apenas antes e depois do treino, quando estamos mais descontraídos. Isso também vai depender da proximidade que cada um tem com determinada pessoa.
- Não coloque as palmas da mão juntas na frente do corpo ao curvar-se. Essa forma de cumprimento na verdade é do budismo chinês e não é utilizado no Japão – nem dentro, nem fora do tatame.
- Nunca cumprimente andando. Sempre pare e faça o cumprimento.
- Não é muito cordial fazer o ojigi ou reisetsu sentado, ainda mais se quem você cumprimenta está em pé. Levante-se e faça a saudação.
- No Japão há uma palavra chamada Gosengorei (語先後礼 = curvar-se depois de falar), ou seja, o certo é falar e depois curvar-se – exceto quando for se desculpar, nesse caso, faz os dois ao mesmo tempo. Não sei o quanto isso se aplica nas artes marciais, mas acredito que seja mais correto seguir essa regra do gosengorei.
- Algumas escolas recomendam que ao seu curvar, é inadequado olhar nos olhos, mostrando humildade e respeito (o olhar deve se manter mais ou menos na região do abdômen do outro, mas estando sempre alerta). Outras recomendam que olhe nos olhos, pois se não o fizer, significa fraqueza e você pode sofrer um ataque surpresa. Normalmente, em shiai, jyu kumite, kotekitai e bunkai é permitido olhar nos olhos do companheiro de treino, mas quando for cumprimentar algum senpai ou sensei, por sinal de respeito, não se olha nos olhos.
Referências: Bowing in Japan - Tofugu
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