No kanji, Mu é nada, nenhum, nulo, vazio e Shin significa coração, mente, espírito. No Budismo, é o estado em que uma pessoa está livre de todos os pensamentos mundanos. Por que esse conceito é importante e utilizado nas artes marciais? Porque treinar, aprimorar e dominar uma técnica exige o mushin, isto é, que o praticante esteja “vazio” para aprender a arte e que esta se torne parte dele. Trata-se de uma tarefa árdua, pois envolve Kenosis, o esvaziar-se de si mesmo para receber o conhecimento. Obter uma mente vazia de ego e medos exige um dos lemas do Dojo Kun “Criar o intuito de esforço”. 

O sensei Getulio Taigen, monge budista define o mushin de uma forma brilhante: “A meta é conseguir unificar corpo e mente a tal ponto que não exista nenhuma diferença entre pensar alguma coisa e colocá-la em prática. Esse estado mental é chamado de Mushin ou Munen e significa "sem mente", a mente se torna vazia de conceitos de bom ou ruim, de suportável ou insuportável, de tal forma que não interfere nas ações do corpo. Apenas existe o trabalho a ser feito e o esforço de chegar a perfeição em qualquer ação".

Quantos não desistem, seja do treino, dos estudos ou de outras coisas na vida, por estarem cheios de egos, de medos e crenças, fechados em sim mesmos? Mushin, no meu parecer, é um exercício de humildade e não se esforça ou se conquista nada sem humildade. Que o mushin possa ser a chave para que nos esforcemos em nossas metas. 

Ganbarimashou minna-san!!! 

Com a frente fria que está tendo em São Paulo, nada mais justo que provar um prato quente e uma das minhas opções favoritas é o ramen: um caldo fumegante com macarrão, lombo, broto de feijão, ovo marinado e cebolinha. No ano passado, abriu no bairro do Paraíso o Jojo Ramen, uma casa que vem fazendo bastante sucesso, com pratos mais tradicionais e preço médio.

A ideia de criar o estabelecimento veio de Simone Akemi Xirata, que descobriu o ramen quando visitou o Japão em 2011 e se encantou com esse prato. Ao retornar a São Paulo, teve a ideia de trazer um pouco da experiência que teve, por isso começou a procurar algum chef especializado. Foi assim que começou a parceria com o chef Takeshi Koitani, um mestre em ramen.

O estabelecimento é conhecido pelas longas filas de espera (mas outras casas de ramen que fui também possuem esse problema), por isso chegamos cedo e logo já conseguimos uma mesa. Ao olhar para o lado de fora, dava para perceber a fila crescendo bastante, principalmente por ser a semana que do primeiro aniversário do Jojo Ramen. O ambiente não é muito grande, mas é aconchegante e intimista, com luzes amareladas.

Nós pedimos o famoso karaage (frango frito - R$16) o qual veio quatro porções bem crocantes e saborosas, acompanhadas de um molho da casa.


Quando ao ramen, eu pedi o de shoyo (R$29), com macarrão hossomen (fino), 1 fatia de chasu (carne de porco), menma (broto de bambu), cebolinha e 1 folha de nori (alga). Para acompanhar pedi hanjuku tamago (ovo marinado - R$3,50).  É uma opção de prato para quem não come tanto por ser mais suave e o macarrão ser mais fino. Mesmo assim, não consegui comer tudo!

O Wellingtom pediu um ramen jojo de misso (R$37), com futomen (macarrão grosso), 3 fatias de chasu, 3 folhas nori, vegetais e hanjuku tamago. Uma opção para quem come bastante, pois o caldo é bem mais encorpado, sem falar a quantidade de ingredientes que é bem maior.

Os pratos são bem servidos, com caldo delicioso, nele não se utiliza nenhum aditivo químico ou glutomato de sódio. O macarrão é muito saboroso e é é feito de maneira tradicional em uma máquina trazida do Japão. O chasu veio com pouca gordura (ainda bem, tenho trauma de carne de porco gordurosa em ramen ou soba) e tem um sabor defumado, por conta da grelha de carvão utilizada.

Fiquei muito curiosa em experimentar o kara misso, por ser um caldo apimentado (sou muito fã de pimenta), por conta disso pretendo voltar outras vezes não só para provar outros pratos como também por ter gostado muito! Vale a pena conhecer e provar.

Com a constância do treinamento marcial, nos deparamos com vários desafios e um dos principais deles é o controle do nosso próprio ego e da nossa própria vaidade. Shoshin (初心) remete ao pensamento de principiante, no qual nos colocamos em uma posição de humildade e atenção total ao que nos é passado. Para um budoka essa é uma das principais formas de manutenção de sua aprendizagem, pois deve estar atento (zanshin) a tudo o que vivenciar dentro e fora do dojo, tirando sempre o melhor proveito de cada situação em função da construção e manutenção do seu conhecimento (shoshin). Deve estar atento e pronto para absorver todos os ensinamentos do sensei e continuar seguindo seu caminho de aperfeiçoamento moral e técnico.

Quando entramos em um dojo pela primeira vez somos confrontados por nossas expectativas e pela realidade vivida nesse espaço. Todos nós temos os nossos próprios conhecimentos e experiências conquistados ao longo de nossas vidas, seja em poucos ou em muitos anos vividos. Mesmo uma criança tendo pouca idade para compreender muitas das coisas que acontecem ao seu redor, ela está cheia de experiências e de conhecimentos que ao ser confrontado com a prática do budo e, em consequência shoshin, deve ser orientada a deixar de lado o que já sabe para poder experimentar o máximo do que pode aprender com a prática marcial. Para os adultos, às vezes, é mais difícil orientar, pois muitos deles ou a grande maioria já tem seus próprios conceitos sobre a vida de maneira geral. Estes já vem com seus "copos cheios", para iniciar e se desenvolver no caminho marcial budo devem se "esvaziar" e se permitir conhecer o novo.

Shoshin é uma atitude de desprendimento ao que já temos enquanto conhecimentos, de humildade e respeito para com o que vamos aprender, pois devemos estar atentos a tudo o que nos será ensinado, pois nem tudo se mostrará de forma clara nesse caminho e estarmos em Zanshin (alertas) nos permitirá compreender o máximo dos conceitos que podem ser abordados dentro e um dojo. No fim, são suas atitudes que determinaram o quanto irá progredir no caminho, o quanto será fácil e o quanto será difícil, por tanto esteja sempre "aberto" e pronto para "esvaziar-se" e logo "preencher-se" do novo.

Ganbarimashou!!

Referências:

http://www.leotamaki.com/2015/08/shoshin-l-esprit-du-debutant.html

https://impressione.wordpress.com/tag/fudoshin/

Foto: Ricardo Yukawa

"É a calma, não a técnica, o sinal de um samurai maduro"

Bokuden Tsukahara

Sendo um dos princípios fundamentais do budo, Fudoshin  remete ao pensamento de "manter-se imóvel", um estado de mente inabalável com um espírito quieto. Fudoshin traduzido diretamente como "mente imóvel" é um estado de coragem desenvolvida pelo budoka para enfrentar as dificuldades e os perigos. Este princípio vem desde a época dos samurais que no calor de suas batalhas ao invés de enfurecer-se e deixar que a raiva tomasse conta de suas ações, procuravam acalmar-se para pensar estrategicamente em cada passo que dariam na busca de sua vitória. Para os ocidentais é, de certa forma, confuso pensar em um guerreiro "sem raiva ou fúria" que alimentam suas ações. Isso era  o que tornava os samurais tão perigosos.

Trata-se do desenvolvimento da coragem e autoconfiança para enfrentar as dificuldades, da estabilidade e equilíbrio físico e mental para suportar as intercorrências da vida. Pensar em Fudoshin é contrair pra si a autoconfiança em suas ações, é compreender o caminho e enfrentar sem medo o que estar por vir, procurando entender os meios e os fins que justificam-se através das suas atitudes. Não é difícil imaginar o quão complicado é ter que enfrentar os desafios que surgem em nossos caminhos, seja um exame de graduação, uma disputa em uma competição, uma prova final na escola ou faculdade ou mesmo ser incumbido no trabalho de realizar uma tarefa realmente complicada. Isso, de certa forma, tende a nos deixar inseguros sobre a nossa capacidade de realizar o que foi nos imposto ou solicitado.

Porque vivemos isso a todo momento. Somos testados, provados e julgados, seja por nossas atitudes ou decisões. Então, é mais fácil aprender a lidar com essas dificuldades do que fugir e se esconder. Podemos sim conseguir e superar tudo o que surge em nossos caminhos, o conceito de fudoshin nos permite desenvolver essa autoconfiança de enfrentar e a coragem para superar. Por isso, durante o treinamento somos a todo momento testados dentro dos nossos limites a superar as nossas fraquezas, na busca de melhorarmos dentro das nossas dificuldades. 

Isso é fudoshin. Mantenha uma atitude pacífica e corajosa frente às dificuldades que surgem no seu caminho, mantenha sua mente focada no objetivo a ser alcançado, treine sempre e se dedique ao máximo. Somente assim estará mais próximo de entender e praticar de verdade o significado desse conceito. Aplique isso em todas a áreas da sua vida e, infelizmente, ainda após anos de prática continuaremos sem entender na sua totalidade o que de fato se trata. Treinar, se preparar e estar atento a tudo e a todos é o caminho que o budoka deve seguir.

Por mais que o ato pareça o mesmo, em cada ocasião transmitirá um sentimento diferente como agradecimento, respeito ou até remorso. O que você tenta comunicar ficará claro de acordo com sua postura e quanto tempo fica curvado. Nas artes marciais japonesas, o Ojigi é algo bastante presente, pois cumprimentamos o sensei, os senpai, os kouhai e o próprio dojo dessa forma, tanto na posição seiza quanto em pé. Então, saber fazê-lo de maneira efetiva é importante, para demonstrar respeito e disciplina pela arte que treina e pelos seus instrutores e colegas. 

Aviso: as saudações no karatê e em outras artes marciais podem ser diferentes daquelas utilizadas no dia-a-dia dos japoneses. A saudação também pode variar dependendo da arte marcial, do estilo e do dojo. Caso conheça alguma variação, comente para acrescentarmos mais informações no post.

Créditos: Ricardo Yukawa

A posição seiza no karatê tem diferenças entre homens e mulheres. Os dois devem se ajoelhar primeiro com o joelho esquerdo e depois o direito, colocar o pé direito sobre o esquerdo e sentar nos calcanhares, mas enquanto as mulheres devem manter os joelhos unidos, os homens os deixam afastados. Os braços devem ficar apoiados nas coxas, a coluna deve estar ereta. Ao se levantar, o processo é o contrário, levanta-se primeiro a perna direita e depois a esquerda. No começo é uma posição desconfortável e causa dormência nas pernas, mas, com o tempo e persistência, seu corpo vai se acostumando. Naturalmente, você se verá fazendo a seiza  e se sentindo confortável nela.

É o cumprimento feito em pé, na posição musubi-dachi (結び立, posição em que se junta os calcanhares e se aponta os pés para os lados, fazendo um V). As costas precisam ficar eretas o tempo todo durante a saudação, os pés e joelhos não podem se movimentar e não pode empinar as nádegas! Você precisa se curvar por volta dos 45º, as mãos devem estar ao lado do corpo – evite batê-las contra o corpo quando for fazer o ritsurei, é falta de respeito. Fique nessa posição por três segundos e retorne a posição inicial.

"O bambu não foi escolhido como símbolo do Japão. Ele é, porém, uma espécie de ingrediente secreto que se manifesta de diferentes formas no tecido cultural do país".

E finalmente depois de muita espera o Japan House foi inaugurado no dia 6 de maio, último sábado na Avenida Paulista (perto do Metrô Brigadeiro) com o objetivo de difundir a cultura japonesa por três cidades escolhidas pelo governo japonês: Los Angeles, Londres e São Paulo. O espaço é muito receptivo e aconchegante, no qual os visitantes terão acesso a exposições, workshops, palestras, shows, artes, gastronomia, estudos acadêmicos e muitas outras opções de conhecimento e entretenimento. Realmente um prato cheio para quem gosta de cultura japonesa, por isso o Além do Tatame foi conferir de perto.


O espaço possui três andares e é muito bonito, bem iluminado, com bastante janelas, cobogós brancos e uma decoração minimalista. No primeiro andar fica parte da exposição, tem a cafeteria Imi Café (com lindos doces e chás japoneses e também comidas brasileiras), biblioteca (os livros não podem ser retirados, apenas consultados no local) com um espaço para leitura e algumas lojas que vendem produtos japoneses.


O segundo andar possui salas para seminários e uma loja de furoshiki, que vende tecidos utilizados em embalagens e bolsas. O terceiro andar fica a segunda parte da exposição, um terraço e o restaurante Junji Sakamoto (o qual estava com uma fila de espera enorme!). Todos os funcionários e seguranças foram muito respeitosos e bem informados. Também é permitido tirar fotos com o celular e câmeras profissionais.

A exposição principal é a "Bambu - Histórias de um Japão", na qual mostra a utilização do bambu na criação dos mais diversos objetos como utensílios de cozinha, cestas, artes e até na shinai, a espada de bambu usada no Kendo. São trabalhos de encher os olhos acompanhados de explicações nas paredes.  A peça principal é a instalação feita por Chikuunsai IV Tanabe, chamada Conexão, na qual 5 mil tiras de bambu se entrelaçam com delicadeza e ao mesmo tempo grandiosidade, mostrando a força, a circulação de energia quando duas pessoas ou duas culturas se cruzam.

O Japan House é mais um espaço com uma proposta incrível e cheia de opções para que ocorra essa conexão entre culturas. É um lugar que vale a pena conhecer e ficar ligado a todos os eventos (parece que terá cerca de 9 exposições até o final do ano!).

Foto: Ricardo Yukawa

“A percepção é forte e a visão é fraca. Em estratégia, é importante ver o que está distante como se estivesse próximo e ter uma visão distanciada do que está próximo.”- (O livro dos Cinco Anéis).

Zanshin é um termo japonês que refere a um estado mental que o budoka busca durante sua prática marcial e suas atividades cotidianas. Zanshin é um conceito do Budo traduzido como "a mente que permanece", remete a um estado de constante vigilância frente às ameaças e desafios do dia-a-dia e de busca, no que diz respeito ao desenvolvimento espiritual, físico e técnico.

Trata-se de um estado de máxima concentração na realização do que se propõe a fazer e, em tudo o que esta a sua volta. O budoka coloca-se em extremo alerta, concentrado em tudo o que ocorre, ele esta em kamae (preparado) pronto pra tudo.

Durante o treinamento sempre ouvimos o nosso sensei dizendo "não percam o foco, mantenham o zanshin" e eu, pelo menos, sempre me perguntava sobre o que seria este zanshin? Hoje tendo investigado um pouco mais sobre sua essência, pude ver o quanto é importante estar alerta as situações que ocorrem a nossa volta. Durante o treinamento ao realizar um kata, um kihon e demais técnicas que pertencem a prática, devemos demonstrar em cada uma delas o máximo do nosso foco e concentração, pois tudo se trata de estar preparado. Estar em zanshin dentro de um dojo não é só no momento do treinamento em si, mas desde a hora que você entra. Zanshin é uma atitude de preservação e busca por uma perfeição quase inalcançável que deve ser realizada com afinco pelo budoka.

Quando digo budoka me refiro automaticamente a todos os praticantes marciais que seguem o budo enquanto filosofia, trata-se do kendo, kyudo, judô, iaido, aikido e karatê-do, dentre outras. Todas seguem os princípios do budo e, com certeza, os mestres fundadores ou mantenedores dessas artes marciais aplicam o conceito de zanshin nos seus treinos, transferindo aos seus alunos esses ensinamentos. Contribuindo para a formação completa de seus alunos, unindo a prática incessante do rígido treinamento do budo com a filosofia, para uma construção moral e técnica significativa.

Essa constância e esse alerta são de, certa forma, relaxados onde o praticante se permite estar atento, porém flexível as mudanças e inconstâncias que os desafios nos oferecem. Trata-se da capacidade de nos pormos a frente de uma situação, antevendo o que pode acontecer e se precavendo a isso. No mundo de hoje as pessoas são "aceleradas" pelo pouco tempo que dispõe para realizar suas tarefas e, são poucas as que param para observar o que acontece a sua volta. São ansiosas pelo futuro que está por vir, ficam desesperadas pelos erros que podem ou não acontecer e acabam por esquecer de viver o presente, o hoje.

Devemos nos manter alertas as nossas atitudes, alertas ao nosso pensamento, a nossa constância. Somos o que buscamos ser e o que nos preparamos para ser. Para sermos bons budoka temos que procurar a harmonia e fluidez em tudo o que nos propormos a fazer. Se vamos lutar devemos nos concentrar no ato de lutar, tirando o proveito de cada mínima situação para aprender e amadurecer. Na luta e na vida não existem caminhos fáceis e as dificuldades servem para nos fortalecer e nos manter no caminho da busca pelo aperfeiçoamento.

Dia 4 de Maio é o Dia do Star Wars, foi criado por George Lucas e é fielmente seguido por seus fãs nas redes sociais. A escolha da data é muito criativa, vem da famosa frase utilizada nos filmes May the force be with you (Que a força esteja com você) com o trocadilho May the fourth be with you (Que o quatro de maio esteja com você).

Para quem é fã da saga e já assistiu os filmes é perceptível a influência das artes marciais e do oriente nas lutas com os sabres de luz e até na maneira dos Jedis se vestirem e se portarem. A técnica de usar os sabres de luz é justamente vista como uma arte marcial no universo de Star Wars. Mas, quais são essas referências?

A Força 

Segundo o personagem Obi-Wan Kenobi, a força é “um campo de energia criado por todas as coisas vivas: ela nos cerca, nos penetra; ela mantém a galáxia coesa”. Os Jedis possuem a habilidade de manipular essa força cósmica. A inspiração disso veio do Ki (気) em japonês, Qi em chinês, Prana na Índia e Mana na Polinésia. Nas artes marciais para que o Ki flua é necessário um intenso treino, foco, meditação e respiração profunda e padronizada. No karatê existe o Kime (決め), que é a capacidade de focalizar nossa força, contraindo o músculo para que um movimento seja efetivo na sua finalização. O objetivo de transferir o máximo de dano ao seu adversário. Também há o Mokuso, onde o praticante tenta eliminar de sua mente qualquer preocupação ou problema durante o treinamento, para que sua técnica torna-se mais eficiente.

Jedis 

A palavra Jedi vem da palavra japonesa Jidai Geki que são histórias de aventura ambientadas na época dos samurais. Conta-se que George Lucas estava no Japão antes de criar seu primeiro filme de Star Wars e acabou conhecendo essa palavra. A ordem dos Jedis é totalmente baseada na dos Samurais, no quais prevalecem a honra, lealdade e o compromisso. Além da inspiração no budo, no qual o aprendiz (Padawan, no universo de Star Wars) demonstra total respeito pelo seu mestre que o acompanha por toda sua aprendizagem. 

A Arte do Sabre de Luz

Assim como o Karatê, a arte marcial usada tanto pelos Jedis quanto os Siths possuem diversos estilos de luta e ramificações, mas predominando sete clássicos. Veja-os a seguir:

Shii-cho: Conhecido como o estilo da determinação, é o que dá base para os outros estilos e aprendido por todos jovens jedis, baseando-se no controle da Força em vez de confiar em seus sentidos. Ele inclui ataques básicos, aparar (técnica de deslocamento do golpe, com defesa e direcionamento para o ataque), ataque corporal, exercícios de velocidade, voltado mais para desarmamento, o treino é focado em sequências e repetições. O Shii-cho é fluído, mas também altamente aleatório e imprevisível. Não se executa ataques letais, exigindo grande controle.

Makashi: Conhecido como o estilo de contenção, representa o refinamento do combate de sabre de luz. Os mestres desse estilo desenvolvem ataques únicos e treinos com foco em não ter seus sabres pegos ou danificados. É um estilo fluído, com precisão e economia de movimentos

Soresu: Conhecido como o estilo da resiliência, foi desenvolvido em resposta ao avanço tecnológico na galáxia. A ênfase em movimentos eficientes e firmes, na menor exposição de áreas de contato, tornando-o o estilo mais defensivo e passivo de todos os outros. Apesar disso, sofreu críticas pesadas devido a falta de ofensivas e a característica de visar a sobrevivência e não a vitória.

Ataru: Conhecido como o estilo da agressão, é o mais acrobático e requer do Jedi habilidades como corrida, salto, torque (a força de rotação do corpo para um ataque ser mais efetivo) e o uso da Força. Aqueles que praticavam conseguiam ultrapassar suas forças físicas fazendo saltos mortais, acrobacias e atacando pelo ar. Os personagens Yoda e Qui-Go Jinn eram notáveis nesse estilo.

Shien/Djem So: Conhecido como o estilo da perseverança, foi desenvolvido por praticantes que acreditavam que o estilo Soresu estendia desnecessariamente sua forma defensiva, esperando uma oportunidade para atacar em vez de criar suas próprias aberturas. O estilo Shiem ou Djem So se caracterizava por ataques e defesas imediatamente seguidas por um contra-ataque.

Niman: Conhecido como o estilo da moderação ou rancor, é uma arte marcial híbrida que equilibra todos os elementos de combate do sabre de luz. A luta pode ser feita de maneira harmoniosa, sem agressividade.

Juyo/Vapaad: Conhecido como o estilo da ferocidade, ficou restrito ao conselho Jedi, pois tinha a possibilidade de fazer com que o praticante sucumbisse ao lado negro. A técnica Vappad foi desenvolvida pelo mestre Mace Windu e foi classificada como um estado de mente, no qual se canalizava a escuridão interior e aceitava a fúria do oponente, transformando-se em um supercondutor e herdando metade do poder do lado negro.

A arte marcial com sabre de luz é tão rica no universo do Star Wars que ainda possui vários tipos de combate, técnicas, variações e os próprios sabres possuem matérias e tecnologias diferentes. É inegável que podemos comparar os sabres as katana ou os bokken (espada de madeira) dos samurais, já que tanto a arma fictícia quanto a japonesa é utilizada usando as duas mãos. Muitos dos ataques e defesas vieram do iaido, kendo, aiki ken e aiki jo. Por mais que a Força seja algo muito importante para os Jedis o destaque acaba ficando para os sabres de luz, assim como o praticante marcial usa a arma como extensão e parte do seu corpo de maneira habilidosa.

Roupas 

As vestes marrons utilizadas por Yoda, Obi-Wan Kenobi, Qui Gon Ji e Mace Windu lembram as utilizadas por monges nos templos budistas, assim como as roupas por baixo das capas lembram um kimono marcial. 

A Rainha Amidala veste trajes ornamentados que lembram muito quimonos japoneses, assim como a maquiagem branca e cabelos lembram as gueixas. 

O capacete de Darth Vader é inspirado nos utilizados pelos samurais, o famoso Kabuto. 

O rosto de Darth Maul é baseado nas máscaras usadas nas peças Oni (demônios) do teatro japonês Nô. 

No mundo das artes marciais japonesas usa-se muito a expressão Budo. Nestes anos de treino ou de pesquisa, já escutei muitas frases do tipo como “Aquele mestre é puro budo”, “Os praticantes de hoje em dia não prezam pelo budo”, mas o que é essa expressão tão utilizada?

A história começa no século XV no Japão, no período Sengoku-Jidai, período de muitas batalhas. Nesta época surge o Bujutsu, um conjunto de disciplinas usadas em batalhas. Budo vem da derivação de Bujutsu e a expressão surgiu no período Tokugawa, um período pacífico e que as técnicas e etiquetas do Bujutsu começaram a ser aplicadas a vida cotidiana. Segundo Camila Taira, "O Budo foi introduzido para ser o caminho espiritual por meio do qual o praticante das lutas de artes marciais atingiria a iluminação. Pode-se então dizer que os objetivos do Budo estão intimamente ligados ao objetivo definitivo da filosofia Zen, que consiste na eliminação do ego, dos preconceitos e ilusões criadas pela mente humana, apegada aos prazeres da Terra".

Budo significa “caminho marcial” ou “caminho da guerra” ou traduzido muitas vezes como “Caminho do Guerreiro”. A expressão está ligada a uma antiga mitologia japonesa do duende Kappa, que podia assumir a posição de ataque e defesa ao mesmo tempo, mantendo uma postura natural e descontraída. A palavra está ligada ao Zen-Budismo e “Do” significa caminho, sentido, iluminação, busca e “Bu” marcial, guerra, combate.

Trata-se de código de aprimoramento, seja físico, mental ou espiritual, ele guia o indivíduo a constante prática e melhora dos objetivos que se propõe. No karatê, as técnicas (seja Kata, Kihon ou Kumitê) são treinadas repetidamente até que se faça corretamente.

O 3º dan de Karatê Shotokan e estudioso de artes marciais Kenji Tokitsu segue a linha do Budo como o treinamento do ser humano como um todo e diz no seu livro "Ki e o caminho das artes marciais": “É um conceito moderno que tem como objetivo o treinamento do ser humano como um todo, intelectual e fisicamente, fazendo uso das disciplinas tradicionais de combate. ”

Alguns sensei são referência aqui no Brasil quando se trata da transmissão dos conceitos do Budo para a nova geração de karateka e forneceram suas opiniões e relatos sobre a prática.


Sensei Flavio Vicente de Souza
Kyoshi-Shihan 7º Dan - Okinawa Shorin-Ryu Karatê Do Jyureikan do Brasil
Renshi-Shihan 5º Dan - Okinawa Kobudo Jinbukai filial do Brasil

"Conforme aprendi, o Bujutsu virou o Budo. O Bujutsu era um conjunto de disciplinas marciais que podiam ser treinadas apenas pelos Bushi ou Samurais visando seu uso em batalhas. Hoje em dia, o verdadeiro significado do Budo é o caminho de aperfeiçoamento marcial e espiritual do praticante das artes marciais de origem japonesas. Portanto, pode-se dizer que a prática do Budo vai muito além da prática de kata, kihon ou kumite no dojo.

O Budo é caminho espiritual dos praticantes das artes marciais e é compreendido como a relação entre a ética e a cultura japonesas. Não desanimar diante das adversidades, mas sim, aprender com os desafios, ser disciplinado e respeitar o oponente são alguns dos ensinamentos. Acredito que o Budo tem muita influência na vida do praticante das verdadeiras artes marciais que preserva os verdadeiros ensinamentos até mesmo nos dias de hoje.

Em algumas das minhas ida ao Japão cheguei a visitar o Budokan, mas nunca tive a oportunidade de participar de uma palestra sobre o Budo e ainda mais traduzida para o português, mas participei da palestra do sensei Fuminori, um especialista no assunto. Tudo que aprendi não só na palestra dele, mas também com a prática do karatê, venho colocando não só nos ensinamentos no dojo, mas em toda a minha vida e tento passar para os meus alunos. Então, para um praticante de artes marciais o grande segredo é evitar os seguintes sentimentos: insolência, confiança excessiva, ganância, raiva, dúvida, suspeita, medo e vaidade.

Acredito também que os professores devem encorajar a evolução dos seus alunos e não devem dar ênfase somente as competições ou habilidade técnica. Agir com cortesia e respeito durante o treino e desenvolver o equilíbrio entre o corpo, a mente e a técnica. Evitar a tentação de perseguir apenas a técnica de luta e competição!

Graças aos ensinamentos do karatê-do juntamente com o seu Budo, facilitou minha vida como bombeiro da polícia, além da resistência física, me deu controle emocional e superação nas ocorrências difíceis e momentos críticos da minha vida! Por isso em todos os eventos que organizo e na minha vida uso a seguinte frase: Budo wa mugem de aru! O caminho do Budo é infinito! Ou seja, temos que sempre lutar e nos aperfeiçoar contra as nossas limitações!"


Sensei Hélio Arakaki
Renshi-shihan 6º Dan - Shotokan Karatê - Academia Muryokan Shotokan de Karatê

"Depois de períodos de guerras, o Japão viveu o período Edo (1603-1867), caracterizado por momentos de paz. E iniciou-se, o ensino à população de todas as técnicas de lutas utilizadas pelos guerreiros samurai, o Bujutsu. Assim, originou a necessidade de se criar um código oral que fosse transmitido aos praticantes das mais distintas técnicas marciais como princípios norteadores para o seu desenvolvimento, não apenas técnico ou físico, mas também espiritual. Estes princípios foram baseados a partir do Bushido, o Código de Honra samurai.

Atuando como Sensei de karatê há mais de 30 anos, sempre me mantive leal à visão de meu sensei, Juichi Sagara, um dos principais introdutores do Karate Shotokan no Brasil, que nos alertava: “criar lutadores não é difícil, importante é desenvolver pessoas do bem na sociedade”. Nestas palavras estava implícito o Budo que o sensei tanto devotava e exigia de nós.

No Budo encontramos as principais virtudes que ajudam o indivíduo a se desenvolver como um ser humano melhor. Por meio do treinamento, o indivíduo aprende a ter disciplina, capacidade de superação, mas, ao mesmo tempo, desenvolve atitude de respeito, cortesia, a humildade, o autocontrole. Como se pode perceber, o Budo transpõe os limites do dojo, ele nos prepara para a vida.

Como muitos alunos e amigos do karatê, eu desfruto do aprendizado proporcionado pela prática física e técnica associada aos princípios do Budo em minha vida pessoal e profissional.

O karatê quando desprovido do Budo tende a tornar-se uma modalidade de luta ou desportiva apenas, tornando assim uma prática inconsistente, descontínua. Prova disso é que cada vez mais nota-se no dojo de karatê poucos praticantes que tiveram encerradas as suas participações em competições. Tiveram uma dedicação estritamente voltada às conquistas de medalhas e premiações. E uma vez não tendo mais condições físicas para competirem, acabaram encerrando com a prática do karatê, na verdade, uma modalidade desportiva e não o karatê Budo.

Tristemente, venho assistindo o karatê perdendo a sua raiz, por muito tempo fincada no Budo. A minha luta está sendo em propagar e divulgar o karatê que trabalhe os aspectos da eficiência, enquanto luta, mas associada aos princípios perenes do Budo. O mundo necessita de pessoas pacíficas, equilibradas, altruístas".


Sensei Akira Saito
Renshi-Shihan 5º Dan - IKGA Brasil - Shizuoka Goju Kan do Brasil
2º Dan - CBKendo - Iaido
1º Dan - CBKendo - Kendo

"Pode-se dizer que é o pilar central de sustentação das Artes Marciais Japonesas. São conceitos de cunho moral e de atitudes que um praticante deve ter, para uma evolução em equilíbrio do corpo, da mente e do espírito. Tem por finalidade manter as tradições dos conceitos morais das Artes, mas adaptado às peculiaridades e necessidades do período pós-desarmamento Samurai. O que era exclusivamente um código voltado aos guerreiros em batalha, poderia ser entendido também como uma forma de preservação e de evolução do ser humano como um todo.

Atualmente é o que mantém a prática das Artes Marciais Japonesas com o pensamento e respeito pelas tradições, pelas raízes e pela condição de moldar o ser humano, conter sua agressividade natural e doutrinar a moral, através de valores como honra, humildade e perseverança. Juntamente com o pensamento conjunto com as religiões tradicionais do Japão, principalmente do Xintoísmo e do Budismo, todo o contexto da prática trás a finalidade de evoluir espiritualmente.

O maior benefício que um praticante de Artes Marciais pode ter é ser útil para sua sociedade, ser um contribuinte engajado em não apenas fazer o bem, mas um bem que atinja as pessoas em seu entorno. Os conceitos do Budo são formalizados especialmente sob este aspecto, que o praticante deve obter uma evolução, mas que esta evolução seja proativa para seu meio.

Em todos os dojo que praticam seriamente o Budo, exaustivamente são pregados os ensinamentos de não violência. É cobrada dos alunos, uma forte disciplina a respeito de palavra e de conduta e que a violência é algo a ser combatida e não incentivada, apesar da prática em si na hora do combate, parecer transmitir uma arte violenta para os olhos leigos.

O Budo como ferramenta social, além da inclusão de toda e qualquer pessoa, independentemente de raça, idade, sexo, ou mesmo habilidade, traz com a prática a melhora da autoestima, do espírito de companheirismo e trabalho em equipe, o respeito ao próximo e a valorização moral, buscando formar assim um cidadão útil à sociedade.

Um braço importante da grande parte das Artes do Budo é sem dúvida o esporte. Ferramenta de grande utilidade motivadora, principalmente entre crianças e jovens, coloca à disposição da sociedade, todo seu poderio de influencia na formação de bons cidadãos.

Entendido como um caminho de conduta, Budo se estende além da prática da técnica e se dirige a tudo na vida do devoto. Trata-se de um caminho que visa a constante perfeição do praticante dentro e fora do dojo.

Praticando uma arte marcial ou não, o ser humano é um guerreiro que não só busca sobreviver as adversidades cotidianas, mas evoluir e se aperfeiçoar em seus anseios e necessidades. Que a prática do Budo possa elevar a qualidade não só dos praticantes de artes marciais, mas todos os que buscam a melhoria em todos os campos".

Gambarimashou minna-san!!!

Referências:
Tokitsu, Kenji. Ki e o caminho das artes marciais. São Paulo: Cultrix, 2012.
http://www.ryuken-do.com/p/budo-ninpo-taijutsu.html
http://www.japaoemfoco.com/budo-artes-marciais-japonesas/
http://madeinjapan.com.br/2010/12/22/budo-o-segredo-da-filosofia-oriental/